A Amazônia descoberta, entretanto, era, apenas, a litorânea, em especial, a foz do rio Amazonas. A Amazônia Interior somente seria conhecida pelos Europeus através da expedição de Francisco de Orellana, que percorreu o rio Amazonas da nascente para a foz, entre fevereiro de 1541 e agosto de 1542. Os espanhóis, que haviam conquistado o Império Inca, na Costa do Pacifico, sempre desejavam descobrir o território além da muralha que a Cordilheira dos Andes formava. As tentativas feitas não lograram sucesso. Até que Gonzalo Pizarro, governador da provincia de Quito, resolveu enfrentar o problema. Sua intenção basicamente era tomar posse dos territórios orientais, além da Cordilheira dos Andes, que sabia pertencerem à Espanha por força do Tratado de Tordesilhas. Esse era, portanto, seu objetivo geopolitico.
O objetivo mais especifico, entretanto, era descobrir uma especiaria de grande valor comercial, a canela. Aliás, dizia-se que, além dos Andes, estava o país da Canela. O objetivo da viagem era também encontrar o reino do El Dorado que estaria no noroeste da Amazônia. Seria um país fabuloso pela riqueza em ouro que possuía, origem de tantas lendas. A fantástica expedição, concebida e projetada por Francisco Pizarro e seu irmão Gonzalo, era por este chefiada e formada por 220 cavaleiros armados, grande quantidade de lhamas que transportavam os alimentos, aproximadamente 2.000 porcos e 2.000 cães e cerca de 4.000 indios. Gonzalo Pizarro, dirigindo essa enorme expedição, partiu de Quito em fevereiro de 1541.
Francisco de Orellana somente alguns dias depois agregou-se à expedição, pois estava em Guaiaquil, cidade que havia fundado. Era amigo dos irmãos Pizarro (Francisco e Gonzalo) e pessoa dotada de argúcia e inteligência por todos reconhecida, inclusive no trato com as populações indígenas, chegando a aprender a lingua de algumas tribos, pelo menos superficialmente. Quando conseguiu juntar-se à expedição, Orellana estava exausto e faminto e já havia sofrido várias baixas na pequena expedição que organizara. Foi alegremente recebido por seu amigo Gonzalo Pizarro que lhe deu o comando geral das tropas.
Após caminhar, durante 70 dias, tentando atravessar os Andes, os expedicionários encontraram alguns pés de canela dispersos, sem qualquer significado econômico. As dificuldades impostas aos viajantes pela natureza, porém, foram muito grandes sofreram um terremoto que dizimou grande parte da expedição; subindo a Cordilheira Andina, sob um frio arrasador e chuvas constantes, viram-se na contingência de deixar a maior parte dos suprimentos que levavam. Ao longo do caminho defrontaram-se com tribos indígenas que nem sempre os receberam amistosamente. pizarro, porém, reagiu violentamente diante das tribos indígenas, matando muitos índios contra os quais atirava perversamente seus cães.
Enfim, após 10 meses de viagem, conseguiram chegar ao rio Coca, onde alguns indígenas lhes prestaram apoio. Caminharam pelas margens do rio Coca durante algum tempo, até que tiveram a ideia de construir um bergantim para colocar o pessoal mais debilitado. Nessa embarcação, também foi colocada a maior parte da carga, inclusive os recursos financeiros que levavam. Tendo sido informados pelos indigenas de que o rio Coca iria desaguar em outro rio cautlaloso, dai a 10 dias, Pizarro decidiu que uma turma iria em frente, sob o comando de Francisco de Orellana, com instrução para prover-se de viveres e voltar para socorrer os companheiros, no prazo de 15 dias.
Assim, começou a viagem de Francisco de Orellana que, em um bergantim, uma embarcação que, para esse fim especial, o navegador mandou construir, o levaria a percorrer o Rio Amazonas. Orellana capitaneava a expedição com cinquenta e quatro tripulantes, entre os quais o dominicano Frei Gaspar de Carvajal, que se tornou responsável pelo relato da viagem. Chegaram à confluência do rio Coca com o Napo e não encontraram alimentos. Perceberam, entretanto, que a volta seria difícil por causa das correntezas do rio Coca. A alternativa que restava era a de prosseguir sem saber onde iriam chegar, nem que obstáculos teriam de enfrentar. Nessa confluência dos rios Coca e Napo, Orellana deixou três expedicionários com a missão de voltar e relatar a Gonzalo Pizarro sobre a impossibilidade do retorno. Era o dia 2 de fevereiro de 1542, portanto, um ano depois do começo da viagem.
A expedição de Orellana prosseguiu pelo Napo, até chegar ao eixo do "Grande Rio" ou "Paranauaçu", como era chamado pelos povos indígenas aquele que seria depois denominado por Orellana como "Rio das Amazonas". Continuou navegando com o apoio das populações indigenas, tendo chegado a 3 de junho de 1542 ao rio Negro, nome dado pelo próprio Orellana, quando deparou com o encontro de suas águas com as do Amazonas. Seu contato com as populações indigenas era quase sempre violento, matando e torturando os indios para tomar os suprimentos de que necessitava muitas vezes, porém, fez-se amigo dos indigenas, deles obtendo todo o apoio de que necessitava. Finalmente, em 23 de junho, os aventureiros chegaram à foz do rio Mhamundá, onde se depararam com uma tribo indígena que lhes pareceu ser constituida de mulheres guerreiras. Os indigenas, antes, já lhes haviam anunciado que iriam encontrar uma tribo de mulheres guerreiras chefiada por Condori ou Conhori.
Frei Carvajal descreve as mulheres guerreiras, fazendo observações pessoais de forte conteúdo romântico, pela impressão que the causaram:
"Estas mulheres são muito alvas e altas, com o cabelo muito comprido, entrançado e enrolado na cabeça. São muito membrudas e andam nuas em pelo, tapadas as suas vergonhas, com os seus arcos e flechas nas mãos, fazendo tanta guerra como dez índios. E em verdade houve umas destas mulheres que meteu um palmo de flecha por um dos bergantins, e as outras um pouco menos, de modo que os nossos bergantins pareciam porco espinho. Voltando ao nosso propósito e combate, foi Nosso Senhor servido dar força e coragem a nossos companheiros mataram sete ou oito dessas amazonas, razão pela qual os índios afrouxaram e foram vencidos e desbaratados com farto dano de suas pessoas."
Até hoje não foi possivel saber o que havia de verdade e de fantasia no relato de Frei Carvajal. Orellana, diante do que via, aparentemente, lembrou-se do episódio das mulheres combatentes da Capadócia, na costa do Mar Negro, na Ásia, as amazonas, que queimavam um seio para melhor manusear o arco. Assim denominou o grande rio que estava percorrendo de Rio das Amazonas.
A 24 de agosto de 1542, a expedição deixou o Amazonas e, enfrentando grandes dificuldades, voltou para a Espanha. Sobre o trajeto da extraordinaria viagem de Francisco de Orellana, o descobridor do rio Amazonas, veja o Mapa abaixo. Do ponto de vista geopolitico, a viagem de Orellana teve grande impacto sobre o futuro da Amazônia, por meio de dois fatos de forte significado:
-a descoberta do rio Amazonas; suas dimensões fantásticas, levaram a Espanha a reconhecer, como seu, todo o território percorrido por Orellana, isto é, a Amazônia, cujas terras estavam oeste do meridiano do Tratado de Tordesilhas, e o navegador espanhol Vicente Pinzón havia tomado posse para a Coroa de seu pais;
-o relatório de Frei Carvajal - Relato do Novo Descobrimento do Famoso Rio Grande das Amazonas - despertou os interesses, não só de espanhóis, mas dos demais povos europeus рага аs riquezas que possui a grande região; a exploração dessas riquezas era urgente e necessária; o relatório de Frei Carvajal é o marco inicial da revelação da Amazônia para o mundo. Sobre esse aspecto, aliás, соmеntа Мárсio Souza соm muita propriedade "... а rеvеlаçãо da Amazônia foi um verdadeiro impacto para os europeus. Uma verdadeira colisão cultural, racial e social que, como em toda a América Latina, provocou as mesmas contradições que se repetiram ao longo do caminho da empresa desbravadora."
A partir da viagem de Orellana, ingleses, alemães, irlandeses e franceses passaram a se interessar pela região descoberta e por muitos anos iriam disputar com os espanhóis e os portugueses a posse de suas riquezas e de seu território.
Diante do relatório de Frei Carvajal, a intenção da Espanha de assumir efetivamente a posse das terras amazônicas manifestou-se objetivamente quando os reis Fernando e Isabel atenderam ao pedido de Francisco de Orellana para receber o titulo Adelantado de governador das terras descobertas, as quais chamava de Nova Andaluzia. Os reis espanhóis, porém, não lhe forneceram os recursos financeiros indispensáveis para assumir e explorar as novas terras. Com recursos próprios ou emprestados, conseguiu armar quatro navios e voltou para a Amazônia. Na viagem, suas tripulações foram quase dizimadas por doenças e tempestades. Chegou ao arquipélago de Marajó, já doente, em 1546. Aparentemente perdeu-se nos meandros do complexo insular marajoara. Morreu em uma das ilhas da foz do Amazonas, onde foi sepultado, quatro anos após ter descoberto o maior rio do mundo, o rio Amazonas.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
Nelson de Figueiredo Ribeiro: A Questão Geopolítica da Amazônia - Da Soberania Difusa á Soberania Restrita.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
Nelson de Figueiredo Ribeiro: A Questão Geopolítica da Amazônia - Da Soberania Difusa á Soberania Restrita.
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