"Não podes adotar a política como profissão e permanecer honesto".
(Louis Mchenry)
"UM HOMEM ilustre agoniza. Sua mulher está junto ao leito. Um médico conta as pulsações do moribundo. No fundo do quarto, há duas outras pessoas; um jornalista que assiste a cena por força do seu oficio e um pintor que o acaso para lá conduziu". Inspirado neste cenário, Ortega y Gasset ilustra sua fenomenologia em "A Desumanização da Arte". Foi excluído do elenco um sexto personagem; o agente funerário.
O autor usa o parâmetro para firmar analise sobre o estado critico da tecnologia brasileira. O mesmo cenário, com licença pedida ao autor, será utilizado para abordar a crise da ética na política e advertir que corremos sobre o risco de que essa ética venha ser extinta muito breve, caso nada seja feito no sentido de sua preservação.
Cada um dos personagens referidos participa de maneira diferente do acontecimento como se ali presenciassem diferentes "realidades". A mulher curte o sofrimento do marido como se morresse ela mesma. O médico, como bom profissional, é diretamente responsável, mas emocionalmente não se relaciona com o que se passa. O jornalista percebe que a perda para a sociedade é irreparável, mas sua principal preocupação será de relatar imparcialmente o fato. O pintor está indiferente, o evento é apenas mais uma experiência visual. Finalmente, o agente funerário antevê uma oportunidade estritamente comercial. Assim afere Ortega y Gasset uma "distância espiritual", entre observador e a realidade objetiva. A cada personagem corresponde uma distância diferente.
Com efeito ninguém ignora a grave enfermidade que sofre a ética política brasileira. Está próxima do estado de coma. A exemplo da esposa, a sociedade verte lagrimas e sente o medo da sua extinção. Os partidos políticos, embora aparentemente dissociados do lamentável acontecimento, se sentem presos a uma certa responsabilidade.
Como o médico, resignam-se permanecer indiferentes preferindo contar as pulsações. O Poder Público, a despeito dos deveres que são impostos pela Constituição Federal, comporta-se como o jornalista: reconhece a relevância da perda e o prejuízo para a Nação, mas para não fugir à regra, fica no palanque vendo a banda passar. Os órgãos da comunicação e formadores de opinião se assemelham ao agente funerário: sabem como "expert" do ramo que a falência da ética nos setores da atividade rotineira, a rigor é trágica e fatal, todavia, hesitam em preservá-la na devida proporção da sua relevância e, mais grave ainda, a colocam abaixo de interesses menores, desde que estes satisfaçam os apetites insaciáveis da fome de lucros.
Não é possível ignorar que a ética na política brasileira passa por uma crise tão séria que poderá conduzi-la à extinção. Urge que a Nação reaja para evitar que isso aconteça.
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